24/10/2016 11:53 - Fonte: A Gazeta
Quase 9 mil crianças e adolescentes (8.917) com menos de 18 anos, ou seja, menores de idade, se casaram em Mato Grosso, de 2010 a 2014, últimos anos pesquisados pelo IBGE.
Dessas, 17 casaram-se com menos de 15 anos.
Boa parte desses casamentos são informais, inclusive porque a lei proíbe união entre as partes com menos de 14 anos. Para casar de 14 e 18 anos, é preciso ter autorização dos pais.
O assunto é tratado como "casamento infantil" pela ONG brasileira Promundo, com sede no Rio de Janeiro, que iniciou uma pesquisa exploratória sobre o tema no país.
As capitais do Maranhão e do Pará - São Luiz e Belém - foram as cidades escolhidas inicialmente por conta dos indicadores locais que são os mais altos.
Uma das responsáveis da pesquisa, a cientista política Dani Araújo, comenta inicialmente que casamento infantil, até então, parecia coisa da Índia, África e nações tribais.
"Não, isso acontece no Brasil também, e é uma realidade nacional", diz ela, destacando que a intenção é ampliar a pesquisa .
Ela destaca que há 100 mil crianças e adolescentes casadas no país.
Pesquisa da Unicef coloca o Brasil em quarta posição quanto a esta problemática.
Casar da infância e adolescência é problema porque nesta fase, conforme psicólogos e outros especialistas, seria importante que estivessem buscando a formação profissional ou aprimorando relacionamentos com amigas e familiares.
"O casamento precoce pode provocar também gravidez indesejada", destaca a cientista Dani Araújo.
Apesar dos prejuízos à saúde plena dessas meninas, muitos dos casos ocorrem com consentimento delas, que sonham com liberdade e melhoria de vida.
"Acontece que ocorre o contrário. Perdem a liberdade. Quando não é por conta do marido que cerceia, é por causa das obrigações da rotina de dona de casa", comenta a pesquisadora.
A pesquisa reflete sobre esta quebra de projetos individuais antes da fase adulta para a vivência matrimonial, em que o homem aparece mais velho, com em média 9 anos a mais que as meninas.
Reflete ainda sobre o machismo na sociedade brasileira, uma vez que essas meninas muitas vezes saem de casa como produtos, para pesar menos no orçamento familiar ou fugindo de violências domésticas.
A pobreza é elemento que influi neste quadro.
A Promundo atua em prol de relações de gêneros não-violentas entre as partes.
O casamento infantil, na visão do Promundo, é uma violência, que atinge primordialmente as mulheres.